A Americanas (AMER3) surpreendeu o mercado ao anunciar um lucro expressivo de R$ 10,279 bilhões no terceiro trimestre de 2024, demonstrando uma notável reviravolta em comparação com o prejuízo de R$ 1,630 bilhão do ano anterior. Esse desempenho impulsionou as ações da companhia a subir mais de 60%, um reflexo direto da confiança renovada dos investidores após um período tumultuado. A executiva financeira da Americanas, Camille Faria, esclareceu que essa guinada foi em grande parte alimentada pela novação de dívidas e pelo reconhecimento de descontos como receita financeira, atividades que proporcionaram um alívio significativo nas finanças da empresa. Além disso, a reversão de juros e atualizações monetárias contribuiu para esse cenário positivo.
A despeito desses efeitos extraordinários, Camille Faria destacou que, removendo tais fatores, as operações da Americanas alcançam o ponto de equilíbrio, sem apresentar lucro ou prejuízo substancial. Isto, contudo, representa uma melhora considerável em relação ao desempenho anterior, onde a empresa lutava para manter suas margens no azul. Nesta mesma linha, a receita líquida avançou modestamente, com um incremento de 0,6%, alcançando R$ 3,197 bilhões. Mais impactante foi o EBITDA ajustado de R$ 547 milhões, reverter um indicador negativo de R$ 368 milhões relatado no trimestre correspondente de 2023.
A reestruturação financeira foi um passo crítico, culminando na significativa redução de sua dívida bruta de R$ 45,2 bilhões em junho para R$ 1,7 bilhão ao final de setembro. Essa transformação incluiu a quitação de uma série de obrigações através de debêntures públicas avaliadas em R$ 1,6 bilhão, além de R$ 75 milhões em empréstimos e financiamentos concedidos por empresas não recuperáveis do grupo. Esse enxugamento da dívida é visto como um movimento estratégico crucial, liberando a companhia de um peso financeiro que ameaçava sua continuidade operacional.
O CEO Leonardo Coelho, pontuou que a atenção agora se volta para a margem bruta no quarto trimestre, tradicionalmente um dos mais importantes para o setor varejista. Com o pagamento de grande parte dos credores no processo de recuperação judicial, a gestão da companhia direciona seus esforços para otimizar suas operações, enfatizando o reposicionamento de lojas físicas. A estratégia envolve uma combinação mais tradicional de produtos, uma homenagem às raízes da empresa desde a década de 1930, incluindo guloseimas, eletrônicos portáteis, bens domésticos e brinquedos.
Desde que um escândalo contábil abalou a Americanas em janeiro de 2023, forçando-a a entrar em recuperação judicial, a empresa fechou 100 lojas. Agora, busca realocar parte dessa infraestrutura fechada em novas localidades consideradas mais estratégicas, embora detalhes específicos sobre estas novas aberturas ainda não tenham sido divulgados. Essa abordagem visa não apenas conter custos, mas também alinhar a presença física da marca com as tendências modernas de consumo e localização demográfica.
Uma grande parte dos resultados favoráveis do terceiro trimestre pode ser atribuída aos ganhos extraordinários obtidos através do processo de recuperação judicial e reestruturação financeira. Os cortes de dívida oferecidos por credores resultaram em um alívio financeiro estimado em cerca de R$ 11,8 bilhões, contabilizados como receita financeira. Este influxo financeiro desempenhou um papel crucial na recuperação dos resultados, demonstrando a importância das medidas de corte e renegociação de dívidas para a retomada da estabilidade econômica da companhia.