Cometa 3I/ATLAS pode ser o objeto mais antigo já visto, supera a idade do Sistema Solar
5 outubro 2025 1 Comentários vanderlice alves

Cometa 3I/ATLAS pode ser o objeto mais antigo já visto, supera a idade do Sistema Solar

Um objeto que saiu das profundezas da Via Láctea pode ser mais antigo que o próprio Sistema Solar. O cometa 3I/ATLAS, detectado no início de julho, tem idade estimada entre 7,6 e 14 bilhões de anos, o que o tornaria até três bilhões de anos mais velho que o Sol.

Quando Matthew Hopkins, astrônomo da Universidade de Oxford analisou os primeiros dados, ele afirmou que “pode ter mais de 7 bilhões de anos”. A descoberta aconteceu em 1 de julho de 2025Río Hurtado, Chile, pelo sistema de vigilância ATLAS, financiado pela NASA.

Contexto da descoberta

O telescópio terrestre ATLAS, instalado nas alturas de Río Hurtado, tem a missão de detectar objetos que possam impactar a Terra. Na madrugada de 1 de julho, o algoritmo do projeto capturou um ponto com magnitude aparente 18, sinalizando algo que se movia a impressionantes 61 km/s em relação ao Sol. Na hora, o objeto foi registrado como “A11pl3Z” no Minor Planet Center da União Astronômica Internacional.

A trajetória inicial mostrava o cometa cruzando a fronteira entre as constelações Serpens Cauda e Sagitário, percorrendo o plano galáctico como se fosse um viajante antigo que finalmente chegou ao nosso quintal cósmico.

Características físicas e composição

Com cerca de 11,2 km de extensão, o 3I/ATLAS já é o maior objeto interestelar detectado até hoje, superando o berço de visitas como ‘Oumuamua e Borisov. A velocidade final de entrada — 220 000 km/h — o fez atravessar o Sistema Solar em ritmo quase sobrenatural.

O Telescópio Espacial James Webb foi apontado para o cometa em 6 de agosto de 2025. Seu espectro infravermelho revelou níveis surpreendentes de dióxido de carbono (CO₂), muito acima da média observada nos cometas "normais". Segundo Chris Lintott, coautor do estudo, “este é um objeto de uma parte da galáxia que nunca vimos de perto antes”.

Além do CO₂, a análise indicou abundância de água congelada, reforçando a hipótese de que o cometa se formou em um ambiente frio e denso, típico do disco espesso da galáxia.

Origens galácticas e idade estimada

Modelos de formação sugerem que o 3I/ATLAS provavelmente nasceu ao redor de uma das estrelas mais antigas do disco espesso da Via Láctea — região onde residem estrelas com mais de 10 bilhões de anos. Se a estimativa de 7,6–14 bilhões de anos estiver correta, o cometa pode ser até três bilhões de anos mais antigo que o Sol (4,6 bilhões de anos).

Simulações de trajetória realizadas por equipes de diferentes universidades mostraram que o objeto pode ter vagado pelo espaço interestelar por praticamente toda a história da nossa galáxia, sem jamais se aproximar de um sistema planetário até agora.

Observações e instrumentos envolvidos

Observações e instrumentos envolvidos

Além do ATLAS e do James Webb, o cometa foi monitorado por telescópio Hubble e pelo observatório SPHEREx. Cada instrumento trouxe uma peça ao quebra-cabeça: Hubble mapeou a cauda em luz visível, enquanto SPHEREx mediu a assinatura espectral de gases voláteis.

Até 29 de outubro de 2025, data de periélio, o cometa chegará a 1,36 UA do Sol — entre as órbitas da Terra e de Marte — oferecendo uma oportunidade única para observatórios terrestres e espaciais continuarem a coleta de dados.

Implicações para a ciência dos cometas

  • Confirma a existência de uma população de corpos interestelares que não provêm do disco fino da galáxia, ampliando nosso entendimento da diversidade de formação de planetas.
  • Os níveis altos de CO₂ sugerem que a química de formação nos ambientes antigos pode diferir muito da que conhecemos nos cometas do Sistema Solar.
  • Se a idade for realmente superior ao Sol, isso coloca em xeque teorias que vinculam a formação de cometas a processos simultâneos de formação planetária.

Especialistas como Matthew Hopkins e Chris Lintott apontam que “há dois terços de chance de que esse cometa seja mais antigo que o nosso sistema e que esteve vagando pelo espaço interestelar desde então”.

Próximos passos e observação futura

Com a proximidade do periélio, grupos de astronomia amadora e profissional já programaram campanhas de observação em múltiplas bandas. O objetivo é captar a evolução da cauda e procurar sinais de fragmentação, algo que poderia revelar ainda mais sobre a estrutura interna do cometa.

Enquanto isso, o estudo ainda está em pré‑print, aguardando revisão por pares. A comunidade científica mantém cautela, mas o entusiasmo é palpável: a descoberta pode abrir portas para novas missões focadas em capturar amostras de objetos interestelares.

Perguntas Frequentes

Perguntas Frequentes

Por que o 3I/ATLAS pode ser mais antigo que o Sistema Solar?

A idade foi estimada a partir de modelos de formação estelar do disco espesso da Via Láctea, onde as estrelas podem ter até 14 bilhões de anos. Análises de composição química, especialmente o alto teor de CO₂, combinadas com a velocidade de entrada, sugerem que o cometa se originou antes da formação do Sol, há cerca de 4,6 bilhões de anos.

Quais telescópios observaram o cometa?

Além do sistema ATLAS que o detectou, o James Webb Space Telescope analisou sua composição em infravermelho, o Hubble capturou imagens da cauda em luz visível, e o observatório SPHEREx mediu seu espectro de gases voláteis.

Qual será a proximidade do cometa ao Sol?

O periélio está previsto para 29 de outubro de 2025, quando o cometa chegará a 1,36 UA do Sol – isso o coloca entre as órbitas da Terra e de Marte, permitindo observações detalhadas.

O que a alta concentração de CO₂ indica?

Um excesso de CO₂ sugere formação em regiões mais frias e densas do disco galáctico, diferentes dos ambientes onde os cometas do Sistema Solar se formaram. Isso ajuda a refinar modelos de química de protoplanetas em galáxias antigas.

Como a descoberta muda nossa visão sobre objetos interestelares?

Até agora, apenas três objetos interestelares haviam sido catalogados, todos possivelmente vindos de regiões diferentes da galáxia. O 3I/ATLAS, vindo do disco espesso, mostra que a Via Láctea pode enviar ao Sistema Solar corpos de múltiplas origens, ampliando o leque de processos que precisamos entender.

Comentários
Marcos Thompson
Marcos Thompson

Ao contemplar a descoberta do cometa 3I/ATLAS, não posso deixar de mergulhar nas profundezas do pensamento metafísico, onde a cronologia cósmica desafia nossa percepção linear do tempo. Cada partícula de CO₂ que o James Webb detectou funciona como um fóton narrador de uma era pré-solar, insinuando uma história que remonta ao disco espesso da Via Láctea. A velocidade de 61 km/s indica não apenas dinamismo orbital, mas um asterismo de energia que reverbera através das camadas de gás interestelar. Se considerarmos os modelos de evolução estelar, a presença de água congelada sugere uma temperatura de formação inferior a 30 K, condição típica de ninhos galácticos antigos. Essa combinação de composição química e cinemática cria um cenário onde o cometa age como um mensageiro, transportando vestígios de processos nucleossintéticos que antecederam o surgimento da nossa estrela. Ainda assim, a precisão das estimativas de idade, que variam entre 7,6 e 14 bilhões de anos, depende de parâmetros como a taxa de decaimento de isótopos de radiação, cuja calibragem permanece um desafio para a astrofísica de alta energia. O fato de que o objeto alcançará 1,36 UA do Sol numa data futura nos oferece um laboratório natural para testes de modelos de formação planetária, podendo refinar nossas teorias sobre a aglomeração de planetesimais em discos primordiais. Desde a detecção pelo ATLAS em Río Hurtado até as observações simultâneas de Hubble e SPHEREx, cada instrumento acrescenta um fragmento a esse mosaico interdisciplinar. Em última análise, 3I/ATLAS pode ser visto não apenas como um cometa, mas como um fragmento de memória cósmica, cujo estudo pode revelar limitações e oportunidades nas narrativas que construímos sobre a origem do Sistema Solar. Portanto, devemos abraçar essa oportunidade com rigor metodológico, combinando espectroscopia de alta resolução, modelagem dinânica e análise isotópica para desvendar a verdadeira cronologia deste visitante interestelar.

outubro 5, 2025 AT 05:17

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