Dia do Gaúcho: Viva o Campus reúne 15 mil pessoas e transforma a UFSM em palco cultural
20 setembro 2025 0 Comentários vanderlice alves

Dia do Gaúcho: Viva o Campus reúne 15 mil pessoas e transforma a UFSM em palco cultural

Uma tarde para celebrar a tradição e ocupar a UFSM

Quinze mil pessoas em uma tarde de domingo. Foi esse o tamanho do abraço que Santa Maria deu à cultura regional na UFSM, em uma edição especial do Viva o Campus Gaúcho. Entre 15h e 18h, famílias, estudantes e tradicionalistas ocuparam a Praça do Planetário para dançar, cantar, aprender e, claro, matear. O encontro celebrou e adiantou as homenagens ao Dia do Gaúcho, em um clima de parque aberto, com bombachas, lenços e muita curiosidade em torno das atrações científicas e artísticas.

Promovido pela Pró-Reitoria de Extensão, por meio da Coordenadoria de Cultura e Arte, o evento nasceu para uma missão simples e ambiciosa ao mesmo tempo: fazer a comunidade se sentir em casa dentro do campus. Deu certo. A multidão se espalhou sem pressa pelos gramados, rondando os estandes, formando rodas de conversa e acompanhando a programação no coreto improvisado diante do Planetário. A cena misturava gaitas e violões ao burburinho de crianças correndo e visitantes descobrindo laboratórios que, no dia a dia, funcionam longe dos olhos do público.

O coração da tarde foi o DTG Noel Guarany. O departamento tradicionalista da UFSM mobilizou cerca de 20 integrantes para uma sequência de apresentações que costurou dança, voz e poesia. Às 16h, a oficina de dança de salão ganhou uma plateia atenta, gente repetindo passos, rindo dos tropeços e aprendendo marcações básicas. Logo depois, vieram as interpretações vocais: Philip às 16h30, a declamação de Eveline às 16h40, o espetáculo de inverno do DTG às 16h50, e, fechando a roda, as apresentações de Clara (17h10) e Maria (17h20). A cada entrada, um aplauso forte, daqueles que não deixam dúvida: tradição bem feita ainda mobiliza.

Quem circulou pela praça percebeu que o trânsito de atrações era grande. A Polifeira do Agricultor levou hortifrúti fresquinho, pães, geleias e aquele aroma de forno que puxa o público pelo nariz. Dentro do Planetário, as sessões disputadas ofereceram um mergulho nas constelações, um respiro do sol da tarde para olhar o céu de outro jeito. Na mesma linha de aproximação entre ciência e cotidiano, o Jardim Botânico apresentou coleções e ações educativas, enquanto a Mostra de Morfologia colocou microscópios e curiosidades do corpo humano ao alcance de quem queria experimentar.

O LabCuni, o laboratório de coelhos da UFSM, virou uma parada obrigatória. A proposta de uma mateada com os animais chamou atenção de famílias com crianças, mas também de curiosos que queriam entender como funcionam as pesquisas, os cuidados com os bichos e os protocolos de bem-estar. O resultado foi uma conversa aberta, com gente saindo de lá sabendo mais sobre ciência do que entrou.

Um dos pontos mais movimentados ficou a poucos minutos de caminhada dali, no final da Rua do INPE. No prédio 9H, o Hangar Aeroespacial transformou o corredor em sala de visitas: apresentações gerais dos projetos, simuladores de voo funcionando sem pausa entre 15h e 18h e, às 15h30, uma oficina de mini-foguetes que rendeu filas de pequenos engenheiros em potencial. Adultos também testaram os comandos e saíram com a mesma expressão de quem acabou de descobrir um brinquedo novo.

Cultura, ciência e meio ambiente na mesma roda de chimarrão

Cultura, ciência e meio ambiente na mesma roda de chimarrão

Desde 2014, o Viva o Campus se firma como política pública de portas abertas. A cada edição, a universidade monta uma vitrine viva do que produz, com foco em arte, cultura, educação ambiental e convivência. Não é só sobre mostrar laboratórios. É sobre formar vínculos. Quando a comunidade toma os gramados, a UFSM deixa de ser um lugar distante e vira território comum — e isso muda a forma como as pessoas enxergam a instituição no cotidiano.

A edição gaúcha acentuou esse espírito de pertencimento. No mesmo espaço, a tradição foi apresentada em linguagem direta: dança ensinada passo a passo, poesia em voz clara, repertórios que equilibram clássicos do cancioneiro com leituras mais contemporâneas. Tudo ao alcance de quem passava, sem barreiras. A ideia é menos formalidade e mais participação. Quem nunca arriscou uma vaneira pôde aprender ali, com monitores atentos e clima de incentivo.

As ações de consciência ambiental correram em paralelo, puxando conversas simples: como reduzir resíduos em eventos, como usar melhor os espaços verdes do campus, por que áreas como o Jardim Botânico importam para a cidade. Essa combinação de cultura com ciência gera um efeito imediato: o visitante volta para casa levando informação prática e vontade de repetir a experiência.

Do ponto de vista econômico, pequenos produtores e expositores também sentiram o impacto positivo. A Polifeira do Agricultor encurtou distâncias entre quem planta e quem compra, reforçando uma cadeia que depende de encontros como esse para escoar produção local. Já os grupos artísticos e projetos de extensão ganharam palco e público, dois ingredientes que fazem projeto seguir vivo.

O DTG Noel Guarany, por exemplo, cumpre um papel duplo. Mantém acesa a chama do tradicionalismo dentro da universidade e forma talentos que transitam entre invernadas, declamação e música. Ver o grupo na praça é uma aula de cultura regional sem cara de aula — e isso explica a atenção de quem parou para ouvir e a disposição do público em ficar até o fim.

Outro ganho é simbólico. Santa Maria carrega o título de cidade universitária há décadas, mas isso não se sustenta só com salas de aula cheias. Precisa de circulação, vida ao ar livre e espaços que convidem ao encontro. O Viva o Campus acerta quando transforma o entorno do Planetário em arena aberta, onde crianças brincam, jovens circulam com violões, pesquisadores mostram projetos e famílias praticam o velho ritual do chimarrão sem pressa.

Para a UFSM, esses encontros também viram laboratório social. A equipe mede adesão, observa como o público se distribui, testa formatos e ajusta a comunicação. Coisas simples fazem diferença: sinalização clara, programação pensada por blocos, atividades simultâneas para diferentes idades. Somado ao desenho de som e à curadoria artística, o resultado é um fluxo mais leve e seguro.

Quem passou pela Praça do Planetário neste domingo saiu com uma coleção de pequenas cenas: gente ensaiando a coreografia recém-aprendida; uma família tirando foto com o céu projetado no teto do Planetário; crianças com os olhos brilhando diante de um simulador de voo; e estudantes de várias áreas se revezando entre o papel de monitores e o de público. A soma disso tudo explica por que o Viva o Campus, lá atrás, entrou na agenda de Santa Maria e, edição após edição, se consolidou.

Sem promessas espalhafatosas, a organização reforçou o que interessa: o projeto continua e novas edições devem manter a fórmula que deu certo — universidade aberta, programação acessível, mistura de tradição, ciência e cuidado com o ambiente. Para quem esteve lá, ficou a sensação de que três horas passaram rápido demais. Para quem não conseguiu ir, a dica é simples: na próxima, vale reservar a tarde.